Por: Sérgio Ferreira
Após discutir o assunto com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o
da Casa Civil, Ciro Nogueira, no Palácio do Planalto, o presidente Jair
Bolsonaro (PL) autorizou um reajuste salarial linear de 5% a todos os
servidores federais. A correção nos contracheques deve ser aplicada
sobre o salário de junho e custar entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões aos
cofres públicos neste ano, considerando apenas os funcionários do Poder
Executivo. Como o Orçamento só dispõe de R$ 1,7 bilhão para aumentos de
salários, o governo terá que cortar despesas em outras áreas.
A decisão foi mal recebida pelas lideranças sindicais do
funcionalismo, que vêm pressionando o governo por uma reposição
emergencial de 19,99%. Davi Lobão, representante do Fórum das Entidades
Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasefe), disse que a
proposta não foi discutida com a categoria. "Nada foi conversado.
Marcamos presença todos os dias no Ministério (da Economia) e não
falaram com a gente. Isso é uma falta de respeito", criticou. "Esse
reajuste é irrisório. Quatro meses com essa inflação já são 5%", disse.
Algumas categorias, como os servidores do Banco Central, estão
parados desde 1º de abril, reivindicando aumento de 26,6% e
reestruturação da carreira. Fábio Faiad, presidente do Sindicato
Nacional dos Funcionários do BC (Sinal), disse ao Correio que, se for
este "reajuste seco", a greve dos servidores da autarquia continuará.
"Soubemos pela imprensa, foi uma surpresa", disse.
A intenção inicial de Bolsonaro era de dar reajuste apenas à s
corporações policiais, o que gerou descontentamento dos demais
servidores. Além da greve no BC, membros da Receita Federal iniciaram
uma mobilização, que incluiu a entrega de cargos em comissão. Segundo o
Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais (Sindifisco), mais de mil
servidores renunciaram a cargos de chefia. O reajuste linear é uma
tentativa de Bolsonaro de reduzir a tensão na Esplanada, de olho na
campanha pela reeleição.
A corrida para corrigir a folha de pagamento do funcionalismo também
tem a ver com a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que impede
aumentos salariais a servidores a menos de 180 dias do fim do mandato
presidencial. A decisão ocorre, ainda, na véspera do envio do projeto da
Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2023 pelo governo ao
Congresso Nacional, nesta quinta-feira. A proposta deve prever os gastos
estimados com salários no próximo ano.